Taxira kumiça katu
Taxira kumuera may-sangara
Ikum luaia-xitá kumiça iquie rupi
Ikua maritipa munura tana
May – tini iauqui axuka tanu awa
Upaca taxira awa
Ynua ritama – tama tana
Maniatipa ruaia ayacaca?
Iapã icumi apyká supi jenó
Tana mama-tua, tanu papa-tua
Kumiça katu imity ta supi
Sapukatara, kanata, tuiuka
kuara makatipa paranã jeneúma ipura-pani
Tana kumuera imimiua ruaia imanu
Rana usutá iacati
Peruti tana saxipa, tana aykua
Supi uipi era kamutuni
Minha boa fala
Minha língua ancestral
Hoje pouco falamos por aqui
Saber que roubaram de nós
Homem branco fez chorar nosso povo
Acorda meu povo
Essa aldeia/cidade é nossa
Como não lutar?
Vamos agora sentar para ouvir
Nossa avó, nosso avô falar.
Palavra bonita tem para mim
Felicidade, luz, terra
Lugar onde o rio corre ligeiro
Nossa flecha voa pelo céu
Nossa língua ancestral não morre
Ela vai subir o rio
Levando nossa dor, nossa ferida.
Para um novo amanhã.
Que rio eu sou?
Na exuberante Amazônia
Líquida e diversa
Correm rios de várias águas
Sabedoria que me atravessa
Cantando banzeiram -se as águas
Dançando para lá e para cá
Corpos em movimento
Invento de um lindo bailar
Em mim sinto rios se confluindo
Metamorfose em noite de luar
Me sinto Solimões arrebentando
Barrancas que deslizam
Ouve- se o grito!
Pororoca? Além-mar.
A Amazônia que vive em mim
Chama os rios nominados
Pelo bisavô, tataravô assim:
Rio Negro, Solimões, Madeira,
Purus, Juruá, Içá, Japurá,
Acará, Anauá, Trombetas, Tapajós,
Arapium, Rio Branco, Xingu, Mapuera,
Camatiã, Guamá, Tocantins,
Urucum, Maicurú, Paru, Tacutu
Uraricoeira, Pedreira,
Madre de Dios (Amazônia peruana),
Rio Napo – Equador,
Rio Guapaí (Bolívia),
Amapari, Javari, Jari,
Caruci, Itacuaí, Jutaí, Araguari
Que rio eu sou?
Sou confluência com outros rios
Coopero, espero, o pássaro cantou.
Agora sou água em movimento
Bailando manso e ligeiro
Fugindo da poluição
E num mergulho fundo
Chego em mim
Eu água, Umaua, Omágua,
Povo fluido desse grande beiradão.
Pulo n'água.
Deixo o rio me despir e vestir
De identidade, pertencimento
Num movimento de ir e vir.
No canto, encanto, sou ente
O rio está em mim
É sujeito de direitos e sabe ouvir.
Povo da gota d’água
Somos o povo da gota d’água
Filhos que o rio abraçou
Vestiu de coragem o Kambeba
Fortaleceu nossas vidas
Para resistir aos castigos
e violência do invasor.
Entre sussurros e cochichos
Guerras e ambições
Seguimos resilientes
Na contramão do colonizador.
Viemos de uma forte chuva
A gota que fez o rio transbordar
Rio de resistências, identidades
Cultura, interculturalidades
Fortalecidos pela luz do luar.
A gota d’água ganhou forma
Se materializou e multiplicou
Tupi nossa língua falada
Banzeira para resistir
Memória que não se apagou.
Povo guerreiro
Ser água, terra, awa,
Filhos dos filhos da gente
Vida remando pertencimento
Canoa deslizando na imensidão
Povo que segue consciente
Do legado de ser guardião.
É sangue virando rio
Banhando a terra de cor
São vozes gritando alto
Coração partido de dor
Invadidos até na alma
Expulsos do nosso lugar
Vidas sendo assassinadas
O “branco” disputa palmo a palmo o chão
Nós só queremos viver no território
Que é herança de nossa nação
Para o não indígena
A terra tem valor mercadológico
Exploração!
Para nós povo originário
Ela é “mãe terra” e tem valor simbólico
Proteção!
Nela está a memória, história,
Narrativas, cosmologias
Encantados que nos guiam.
Os tempos sempre foram de conflitos.
Enfrentamos os militares no poder
Com Getúlio Vargas se viu crescer
Um projeto integracionista
Feito para nos desmerecer
Tirar direitos dos povos
A língua foi proibida de falar.
E nesse governo bolsonarista
“Nenhum palmo de terra quis libear…”
E deu continuidade ao projeto de integração
Para a FUNAI prometeu ser “foice a degolar”
Trouxe para a votação o marco temporal
Os militares voltaram a comandar
Indo contra as medidas de proteção aos povos
E a questão ambiental?
A natureza virou moeda comercial.
Mas a identidade está na alma
No ser de quem sabe resistir
Estratégias no combate ao racismo
Arma de fogo vem para nos destruir
Chegam na covardia
Diálogo é difícil por aqui
Seguimos desviando da bancada da bala,
Da Bíblia e de quem mais vier nos persseguir
Agora vamos territorializar a política
Bancada indígena almejamos construir
Resistiremos!
Até quando Nhanderú permitir.
Amazõnia dos esquecidos
Vivemos na Amazônia
Aqui não tem só natureza e água
Biodiversidade para exploração
Tem povos pulsando junto
Com a batida do pé no chão.
Curumim pulando no rio
Boto fazendo mundiação
Indígenas resistindo com sua língua
Manto verde, amazônico de proteção
Matinta assobiando agudo
Caçando quem faz perversidade
Curupira rodopiando forte
Andando pela cidade
A Amazônia vive violências
Que a alma não consegue aguentar
Vista como mercadoria
Invasores não a deixam sossegar
Amazônia não é apenas o pulmão do mundo
Ela tem seus problemas
Corre o risco de desertificar
E o mundo sofre com a poluição do ar.
Todos somos responsáveis
Pelos biomas do Brasil
Precisamos nos sentir natureza
Criar pertencimento com o lugar
Cada canto tem vida
É hora de aprender amar.